A campanha #VisibleWikiWomen 2021 chegou ao fim. Em quase três meses de campanha, junto a nossa/s parceiras/parceiros/parceires e comunidades, encaramos um caminho cheio de desafios, mas também cheio de criatividade e genialidade coletiva e feminista, além de imagens fantásticas de mulheres, pessoas trans e não-binárias ao redor do mundo.
A pandemia da Covid-19 impactou a todas nós, assim como nossas parcerias, comunidades, e até mesmo a #VisibleWikiWomen, de muitas maneiras. Em especial, a pandemia afetou os uploads em massa feitos por galerias, bibliotecas, arquivos e museus, e por nossas parceiras vinculadas à Wikimedia. Também comprometeu a participação de muitas comunidades, particularmente as do Sul Global, que seguem sendo desproporcionalmente afetadas pela crise.
Esta realidade desafiadora, alarmante, e muitas vezes exaustiva exigiu de nós e de nossas comunidades muita criatividade e resiliência. Nós confiamos na sabedoria feminista de nossas amigas e parceiras da Association for Women’s Rights in Development (AWID) para escolher um tema que nos encorajasse e inspirasse. O tema teve como foco a celebração de mulheres, pessoas trans e não-binárias que criam realidades feministas e são exemplos de resistência, questionando sistemas de poder e privilégio, e lutando pela liberdade e justiça para todes.
Como resultado da campanha #VisibleWikiWomen 2021, trouxemos mais de 1700 imagens para a Wikimedia Commons, que agora ilustram páginas em 38 idiomas da Wikipédia. Estes números, entretanto, não contam toda a história desta edição; na verdade, não há ninguém melhor do que as próprias participantes para compartilhar o que a #VisibleWikiWomen significou para elas e suas comunidades. Nós convidamos você, a se inspirar e aprender com as reflexões trazidas por essas mulheres, que co-criaram e continuam criando suas realidades feministas mesmo diante de uma pandemia.
#VisibleWikiWomen 2021 na voz de cinco ativistas que lutam pela visibilidade das mulheres
Apresentamos as histórias e detalhes da campanha #VisibleWikiWomen 2021 através dos relatos de Catalina Gutierrez, Justina Aina, Modak Basudha, Ruby Damenshie-Brown, e Selva Mustafa.
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Consultora independente em gênero e sustentabilidade na República Dominicana. Catalina Gutierrez trabalha com organizações governamentais, multilaterais, do setor privado e da academia, assim como com as Nações Unidas, para promover a igualdade de gênero.
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Mulher britânica-nigeriana, a atriz, vocalista, poeta e produtora Justina Aina inspira-se na possibilidade de mergulhar em histórias que são inimitavelmente novas ou reintroduções a trabalhos que deveriam ter recebido muito mais louros, na internet e fora dela.
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Engenheira de profissão e educadora por paixão na África do Sul, Modak Basudha trabalha para construir uma comunidade de mulheres cujas histórias são ouvidas e reconhecidas. Ela é ativista por uma sociedade progressista, em que todas as vozes são ouvidas e reconhecidas.
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Ativista de gênero e apaixonada pela educação e conhecimento aberto, Ruby Damenshie-Brown trabalha na Open Foundation West Africa (OFWA), onde promove acesso aberto na educação por meio de diferentes iniciativas em Gana, seu país de origem.
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Integrante do grupo Elephants Trail (patrocinado pela Fundação Lankelly Chase) e hematologista de profissão. Como pessoa marginalizada na região da Grande Manchester, no Reino Unido, Selva Mustafa é apaixonada por fazer mais vozes serem ouvidas, para que mais pessoas possam viver vidas gratificantes em ambientes de trabalho saudáveis.
Trazendo ao centro as comunidades do Sul Global para aumentar a visibilidade de mulheres online
Motivadas pelo tema da campanha que nos inspira criar nossas próprias realidades feministas, fizemos um esforço extra para trazer ao centro da #VisibleWikiWomen 2021 as comunidades do Sul Global, em especial as que estão localizadas no continente africano. Contratamos nossa primeira coordenadora na África, Pamela Ofori-Boateng, para dar apoio às nossas parceiras africanas e para ampliar nossa rede de participantes no continente durante a campanha. Como resultado, observamos um aumento no número de imagens que retratam mulheres africanas na campanha, em comparação às edições de anos anteriores.
Também apoiamos iniciativas de aprendizado coletivo, liderando e co-liderando oficinas sobre como fazer upload de imagens na Wikimedia Commons. Nós co-organizamos duas oficinas online com nossas parceiras AWID e World Pulse, ambas redes feministas internacionais, e facilitamos uma série de workshops para hackear narrativas e entender o que é a justiça do conhecimento como parte do projeto piloto Greater Manchester Narratives Lab, patrocinado pela Fundação Lankelly Chase.
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A maioria das participantes nunca havia feito upload de uma imagem sequer na Wikimedia Commons, e muitas nunca haviam ouvido falar do movimento Wikimedia e seus esforços pelo conhecimento aberto. Portanto, todas as etapas do processo eram novidade para elas. Catalina Gutierrez explica que discutiu em detalhes, junto às colegas, qual seria a melhor descrição para uma imagem, em inglês e em espanhol. “Uma vez que fizemos o upload, procuramos a imagem na internet e ela apareceu no mecanismo de buscas. Foi um momento feliz para todas nós,” disse ela.
Pela primeira vez este ano, nós testamos a ideia piloto de oferecer recursos financeiros e técnicos diretamente às organizadoras locais da campanha, além dos recursos de conteúdo que compartilhamos desde a primeira edição da #VisibleWikiWomen. Ao fim da campanha, as organizadoras haviam realizado seis eventos online a nível nacional: quatro na África (Gana, Quênia, Ruanda e Tanzânia), e dois na América Latina (Argentina e Uruguai). Além de aumentar e melhorar a capacitação e habilidades técnicas, esses eventos e oficinas serviram como oportunidades de refletir sobre desigualdades de gênero na Wikipédia e seus impactos na internet como um todo para essas comunidades. Durante as oficinas online, integrantes se engajavam de maneira entusiasmada durante as sessões de treinamento simultâneas oferecidas durante o workshop:
“Um dos principais aprendizados técnicos do workshop foi a habilidade da Whose Knowledge? de comunicar sobre esse problema ou lacuna e como a campanha tenta combatê-lo, ao oferecer capacitação e experiência prática às participantes, que fazem upload das próprias imagens na Wikimedia Commons. Ter salas de treinamento simultâneas menores para facilitar o processo garantiu que todas as integrantes recebessem o apoio necessário. Isso é fundamental e algo que vou incorporar às oficinas que realizar no futuro.”
— Ruby Brown
O nível de energia com o qual as participantes se juntavam às atividades dá um exemplo da importância dessas iniciativas em prol da visibilidade das mulheres e outras identidades marginalizadas. “É a minha missão de vida garantir que mais mulheres sejam ouvidas e que mais de nós estejam em cargos de decisão em todos os comitês a nível global”, disse Modak Basudha, da World Pulse.
Como mais um dos efeitos perversos das desigualdades, os espaços online como a Wikipédia perpetuam gap de gênero em seus conteúdos. Cerca de 20% das biografias no site — que continua a ser um dos mais acessados da internet — representam mulheres, e a porcentagem das biografias que contam com imagens é ainda menor. Essa desigualdade de gênero na Wikipédia também vai além da sub-representação e falta de visibilidade das mulheres nos conteúdos. Homens brancos, em especial vindos de países da Europa e da América do Norte, são maioria entre os contribuidores da Wikipédia, e apenas 10% das pessoas que editam páginas da Wiki se identificam como mulheres.
#VisibleWikiWomen se opõe a tais formas de injustiça epistêmica, por meio das quais as contribuições feitas por mulheres permanecem negligenciadas e os conhecimentos de comunidades marginalizadas, ignorados. Ruby Brown elogiou a iniciativa por oferecer uma resposta a esse gap de gênero: “[Isso] empodera muitas mulheres ao redor do mundo a ajudar a avançar nesta agenda e melhorar as narrativas,” disse ela, depois de participar de uma oficina organizada pela World Pulse em parceria com a Whose Knowledge?. “A campanha encoraja mulheres a terem um papel ativo e serem protagonistas da História, criando uma representação mais correta das suas ações por meio de textos e imagens,” disse Catalina Gutierrez, que participou do mesmo evento.
Depois de participar da oficina Greater Manchester Narratives Lab, Justina Aina afirmou:
“Ter as histórias [de mulheres] representadas e links para aprofundar o conhecimento [sobre seus feitos] é tão importante pois, na maioria das vezes, as mulheres não narram suas próprias trajetórias. Também é uma forma de assegurar que melhorias e provocações que acontecem na sociedade possam ser traçados até suas fontes e de que as pessoas possam ter mais controles sobre suas narrativas”.
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Superando desafios e aprendendo juntas
No nosso segundo ano de campanha em meio à Covid-19, nossas comunidades, parceiras e aliadas ainda sofriam as consequências graves da pandemia, como apontado por Modak Basudha. “As regulações aqui diminuíram meu contato físico com outras pessoas, mas ainda assim o trabalho continua, mesmo que a passos lentos. E continuarei eternamente grata pelas oficinas que guiaram a visão que eu já tinha.” Novas explosões de casos e variantes do vírus surgiram, aumentando as desigualdades entre o Sul e o Norte Global em termos de acesso à saúde, às vacinas, ao apoio econômico e social, e à ajuda internacional. Em meio a tais circunstâncias, foi difícil para muitas integrantes das nossas redes manter a energia e o tempo de dedicação necessário para organizar a campanha a nível local.
Apesar disso, muitas deram seus primeiros passos ao editar conteúdos da Wikimedia Commons durante oficinas da #VisibleWikiWomen, e outras ficaram fascinadas pelas possibilidades de produção e colaboração nas plataformas.
“A lição principal das sessões, para mim, foi de que a Wikipédia é mais colaborativa e perspicaz do que me fizeram acreditar”
— Justina Aina
“Um aprendizado técnico que tive foi o de como fazer edições na Wikimedia Commons. Nunca havia ouvido falar da Wikimedia Commons e agora sei como funciona. Eu tenho uma percepção completamente diferente da Wikipédia. Antes, eu imaginava que tudo podia ser editado sem qualquer forma de averiguação, e agora sei que não.”
— Selva Mustafa
Como resultado direto da #VisibleWikiWomen, mais de 40 editoras se uniram à comunidade Wiki e nós esperamos que mais continuem a se interessar pela campanha. Participantes pensam em compartilhar esses ensinamentos com suas comunidades, como conta Selva Mustafa. “Eu vou compartilhar o que aprendi com meus colegas porque esse tipo de coisa precisa ser compartilhada e porque elas são candidatas ideais para se juntar a tais esforços.”
Nossas esperanças e sonhos para a #VisibleWikiWomen 2022
No próximo ano, pretendemos expandir o apoio que damos às lideranças de nossas parceiras e comunidades, para que organizem seus próximos eventos da #VisibleWikiWomen, em especial para criar recursos multimídia em mais idiomas para a campanha.
Queremos construir mais parcerias com redes feministas, assim como galerias, bibliotecas, arquivos e museus no Sul Global, para criar espaços seguros e alegres em que mais mulheres e pessoas trans e não-binárias aprendam sobre o wikiverso e reflitam sobre justiça epistêmica e desigualdades de gênero na Wikipédia.
Como disse Justina Aina, ao ser perguntada sobre como se sentiu ao participar da campanha:
“Isso faz com que eu me sinta esperançosa sobre o crescimento nos números de mulheres na Wikipédia e na internet como um todo”.
Nós, também, nos sentimos esperançosas por um futuro em que mulheres, pessoas trans e não-binárias sejam visíveis, celebradas e representadas de forma justa na internet. Agradecemos imensamente a cada participante, cada parceria e a cada comunidade que se juntaram a nós neste ano, em mais um passo em direção a esse futuro que estamos co-criando juntas.
Tradução por Priscila Bellini, com revisão de Adele Vrana.